Poemas em A
Poemas em A

Aldeia de Menino 


N' aldeia, perdida no alto monte,
estreitada por um vale verde,
rústica d' odores matinais,
meu olhar voga no horizonte,
limitado de céu e se perde
em mil sussuros adagiais.

Aldeia das fragâncias naturais,
das cores divinas matizadas,
os verdes, amarelos, laranjas;
os fumos do lar em espirais
voam como danças orquestradas
p' lo vento, em farrapos e franjas.

Minh' alma rejubila feliz,
livre d' escravidão dos amores
inventados por cruel nostalgia;
Meu corpo, renova, qual petiz,
sangue, lágrimas, esvai as dores
d' anosa vida em rebeldia.

Minha boca sorri, desabrocha,
líricos de louvores eternos
à natureza pejada de vida;
Minha boca grita e desbocha
canções, desafios dos infernos,
toada monocórdica perdida...

Desculpai aves, desculpa rio
por quebrar as vossas melodias.
desculpa vento por seres arauto
do meu patético desvario.
Desculpai, cedo virão calmias
para vós e dores para mim, incauto...

N' aldeia, meu paraíso real,
liberto do mal, perdido de mim,
sou menino travesso sorrindo...
Por irmãs e por irmãos, afinal,
tenho a rosa, o cravo e o jasmim,
que m' acenam; sinto-me bem-vindo! 

 

  Almas Gémeas

 


 

Cinco horas e treze minutos...
Madrugada!
Olho, pela minha janela, o mar.
O mar majestoso e manso,
por vezes cruel e traiçoeiro.
Raios obscuros numa metaforse
de luz se projectam no seu seio
fazendo parecer mais
um mar de pirilampos
que líquido salgado em repouso.
Algo me ocorre no pensamento,
como tantas outras vezes,
(que) deixo vaguear o espírito:
- Se o mar tem alma?
Como nós...
Se ela é igual à nossa?
Alma com a mesma paixão
e defeitos que nós humanos,
matéria também...
Mas porquê alma?
Porque não espírito,
uma força motriz qualquer
provocada por nervos em vibração!
Porquê alma?
Porque não coração?

Apodero-me do pensamento
bem quente, em ebolição.
Toda a reacção de um cérebro
ao rubro me rebentam na pele,
nos dedos, na boca, nos olhos
cheios de maresia.
Ordeno as ideias e transmito
à mão mensagens sem fim.
E escrevinho letras sem fim...
Sem tino, palavras que não atino.
Mas escrevo o que penso, que sinto.
Sou louco pensando como agora
em algo descabido...
- UMA ALMA GÉMEA!
Parecidas como duas gotas d' água,
que se encontram e se reproduzem.
Algo utópico...
Seria destino, ou uma força estranha
e poderosa?
Mas para quê lamentar?
Tudo o que resta é sonhar!
Só passar por esta vida deixando
apenas impressa a nossa presença
numa reles fotografia que temos
então "matemo-nos"!

Almas gémeas!
Quem as viu ou as sentiu?
Se conhecerem alguma,
digam-me...
- Diz-me mar!
- Diz-me céu!
- Diz-me chuva!
- Diz-me vento!
Nada? Nada!
Não haverá amor, um par sequer,
para formar uma alma gémea?
Nada? Nada!

Oh! Seis horas e vinte e um minutos.
Vai despontar, da madrugada,
um dia mais. E eu???
Vou voltar à realidade...
"Almas gémeas"?...

 

 

Amar-te Eternamente

 


Liberto da densidade das trevas,
envoltas em tenebrosos pesadelos,
redescubro-te nos meus sentimentos
efervescentes de ternura e sonhos,
e d' emoções vividas em cada dia.

Meu amor por teu amor é eterno!
Gera os sentimentos mais audazes
que meu coração ousam enamorar
na perfeita união da sensualidade
transcrita de nossoa corpos e almas.

Amar-te tão densamente, eleva-me
ao desejo de ser teu amante sedento,
de doar ternura e paixão infinitas,
vivenciar a empatia dos sentimentos
e, cativos no tempo, intemporais.

Amar-te é delinear um poema d' amor!
Ritmar o coração com as ondas do mar
de teu corpo em turbilhão de saudade,
inquieto de humores, exalando o sal
do desejo não saciado, apenas tecido.

Amar-te é reconhecer-me teu amante!
Beijar a tua boca, tocar teu corpo,
reter-te no frémito de nós mesmos,
voar para além do sonho partilhado
e pousar na serenidade dum rochedo.

Amar-te, meu amor é dar-te vida!
Caminhar de mão dada em jardim,
renascido de cor, som e odores,
vogar na noite de luar enlaçados
e sorver a paz dum banco de pedra.

Amar-te, para sempre, é ser eterno!

 

 

 

 Amei um Dia…

 



Amei-te, desesperadamente,
sôfrego de te sentir meu ser.
Amei-te, mulher, no esplendor
total da tua maturidade.
Amei-te, menina, docemente,
abri-te como livro a reler.
Bebi cada estrofe com frescor
d' água refrescante da vontade.

Amei-te sempre d' alma exposta
aos perigos da perda sem futuro,
em avidezes quiçá esgotantes,
Amei-te, louco, de coração.
Amei no desprezo, sem resposta
- silêncio atroz - esbarrei no muro
de masmorras frias, sufocantes
d' indiferença, sem compaixão.

Amei-te mesmo nesse negar,
de ti para mim, acusador
d' erros cometidos, de traição,
mentiras fúteis, promessas vãs,
que teu ego teimou inventar.
Amei-te, poeta sonhador,
respeitei-te na contemplação
d' outras querelas temporãs.

Hoje? O Hoje não existe mais;
nem os sonhos, nem os pesadelos,
felicidades ou mais venturas.
Finaram-s’ os poemas d' amantes.
O olhar não chora, a boca sem ais,
e mãos que não se tocam em desvelos,
qu' a raiva consome em desventuras...
Amar? Hoje? Só como farsantes!

 

 

 Amor Proibido 

 

 



Sofremos ambos de carência afectiva,
O cerco opressor da solidão famélica
De sentimentos de dádiva e partilha,
Corroídos de paixões de contradição
Na tempestade dos ódios vivazes.

E, assim, vivemos um amor proibido!
Este amor que nos exalta o espírito
No momento de serena intimidade,
A intensidade do nosso enlace cresce
Na dádiva total dos corpos e almas.

São-nos revelados paraísos secretos,
Tão em segredo como mais proibidos
Que exalamos em ondas de carinho.
Mas muitos perigos advêm ferozes,
devorando-nos no turbilhão do medo.

E, nosso amor consente a proibição,
Reveste-se de ternura extravasada,
licor agridoce irrompendo fecundo
no furor do eterno enamoramento,
libertando-nos do naufrágio de nós.

 

 

 Amor Renascente

 



Nosso amor, são rios que fluem
Em fios soltos de águas nascentes
E se espraiam vivos e vagarosos
Pelos leitos de terra que escolhem.
Ora, um, em plácido murmúrio,
Ora, outro, numa troante cascata.

O nosso amor se sobressalta,
Revive em cada momento,
A montante, verdes sem fim,
A jusante, o azul celeste
Que lhes dão cor envolvente.

Nosso amor gera as fontes
De frescura da sede de nós
E nos renova de mil desejos,
Dum abraço feliz e eterno,
Onde os leitos serão só um,
Que jamais alguém separará,
E nele, esse amor se renderá
ao encanto de melódica paixão,
até que o mar nos arrebate,
revolto pelos ventos e ondas.

 

 

 Amor, Sentenciado!

  



Deixem vós que "Amor" fale,
diga que tormentos m' impôs,
que palavras usou d' enganos?
Deixem vós que "Amor" declare
porque trapaceou meu coração
e me raptou a alma e a razão?

Porque "Amor" me subtraíu sonos,
me contranbandeou todos os sonhos,
e me feriu no meu ser, fatalmente?
Porque m' entregou infeliz cativo
no abraço carinhoso de minh' amante
e me saciou de seus doces beijos?

Que "Amor" seja sim, um sentenciado,
em perpétuo esforço e viço empenho
na união dos amantes, eternamente.
Que "Amor" transforme horas em dias,
dias em meses e anos de felicidade.
Jamais "Amor" poderá ser perdoado!

Deixem que "Amor" sofra julgamento,
não me façam juiz em causa própria,
nem júri de acusação com fundamento.
Eu, "vítima", retiro todas as queixas,
esqueço humildemente as suas afrontas,
porém, jamais inocentem este "Amor"!

 

 

 Anjos



Se fossemos Anjos,
O Amor seria eterno,
A dor sempre ausente,
Ambas as almas unidas.

Se fossemos Arcanjos,
O beijo seria fraterno,
O abraço envolvente,
As carícias vividas.

Se fossemos Querubins.
De beleza intemporal,
Teríamos menagens,
E altares d’ incenso.

Se fossemos Serafins,
Derrotando todo o mal,
Entoaríamos mensagens,
De paz e d’ amor imenso.

Se fossemos sobrenaturais,
Voaríamos espaços e céus,
Zelaríamos por universos,
Protegendo os amantes.

Mas pobre de nós mortais,
De nudez amorfa, sem véus,
Feitos d’ úteros mais diversos,
Em infernos imersos, errantes.

Se fossemos, apenas, ascetas
Exilados e sós neste mundo,
Seríamos musas dos poetas,
Em líricos d’ amor profundo.




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